A premiação foi anunciada em 13/05, na sede da Fundação World Food Prize, em Des Moines, capital do estado americano de Iowa. A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá em outubro.
Mariangela Hungria, que também é pesquisadora e professora universitária, foi reconhecida pela fundação por seu trabalho com insumos biológicos que transformaram a agricultura brasileira, apresentando alternativas sustentáveis aos fertilizantes químicos.
“É uma forma de levar uma imagem positiva da sustentabilidade no Brasil, de mostrar que a gente não é só devastação”, destacou a cientista.
“Todo mundo dizia que não tinha futuro, que grandes produções só seriam possíveis com químicos e tudo mais. Mas a gente seguiu acreditando”, declarou a brasileira, referindo-se aos obstáculos que enfrentou para adotar técnicas sustentáveis de biotecnologia agrícola.
A brasileira é uma das pioneiras na proposta de fixação biológica (por bactérias) de nitrogênio como alternativa aos fertilizantes químicos, contribuindo para um processo agrícola sustentável.
A estimativa é que suas pesquisas tenham gerado alternativas de técnicas adotadas em mais de 40 milhões de hectares cultivados no Brasil.
Mariangela Hungria é a quarta brasileira a ser premiada com o chamado “Nobel da Agricultura”, a primeira mulher da lista. Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli foram agraciados juntamente com o norte-americano Colin McClung pela atuação para desenvolver a agricultura no Cerrado.
Cinco anos depois, em 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dividiu a premiação com John Kufuor, ex-presidente da Gana, na África, pela atuação de ambos no combate à fome em seus países.
Idealizado pelo engenheiro agrÎnomo estadunidense Norman E. Borlaug (2014 - 2009), vencedor do Nobel da Paz de 1970, o Prêmio Mundial de Alimentação é concedido para contribuições individuais para a oferta e qualidade de alimentos no mundo. O premiado recebe 500 mil dólares e uma escultura do artista e designer nova iorquino Saul Bass.
Nascida em Itapetininga, cidade no interior de São Paulo, Mariangela viu a paixão pela ciência florescer ainda na infância, quando frequentava a escola em que sua avó dava aulas no curso de farmácia.
'Ela fazia experiências comigo no quintal, me ensinava com paixão. Esse exemplo foi determinante para a minha trajetória', declarou a cientista, enaltecendo a influência da avó em sua carreira.
Outro influência decisiva em sua caminhada foi a engenheira agrônoma Joana Döbereiner (1924 - 2000). Mariangela ingressou na Embrapa a convite da cientista.
Mariangela Hungria é formada em engenharia agrônoma pela Universidade de São Paulo (USP). Ela tem mestrado e doutorado em ciência do solo, além de ter feito pós-doutorados nos Estados Unidos e na Espanha.
Ela atua desde 1991 como pesquisadora na Embrapa Soja, unidade da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) destinada a desenvolver tecnologias e modelos para a produção de soja no país.
Com mais de 500 publicações científicas, a pesquisadora foi incluída na lista da Forbes entre as mulheres mais influentes do agronegócio do mundo.
Em fevereiro de 2025, ela foi anunciada uma das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq.
O trabalho de Mariangela Hungria notabiliza-se desde o início pelo foco na biotecnologia agricola, hoje adotada em larga escala e que traz grandes benefícios a pequenos produtores.
'Essa luta de anos finalmente está dando frutos e pode servir de exemplo para outras cooperativas', declarou a cientista, ao falar dos trabalhos de bioinsumos voltados para agricultores familiares.
Mariangela Hungria destacou também que o prêmio ajuda a dar visibilidade ao trabalho das mulheres na produção de alimentos. “É pela pesquisa brasileira e também pelo lado da mulher, porque as mulheres têm um papel incrível na produção de alimentos, que vai desde a agricultura familiar, praticada em sua maioria por mulheres, até a área da pesquisa, onde eu estou”, ressaltou.