ARTIGO

Visão do Correio: o mau uso da IA precisa ser contido

O potencial da inteligência artificial é transformador, com um leque de benefícios ampliado. Os impactos do mau uso, também

"A discussão sobre a IA merece cada vez mais espaço na sociedade" - (crédito: Inteligência artificial)

O mundo da tecnologia repercutiu ontem a oscilação na operação do ChatGPT, a inteligência artificial generativa desenvolvida pela empresa estadunidense OpenAI. O site DownDetector, que monitora instabilidades em portais da internet por meio de manifestações do próprio usuário, registrou o pico de reclamações no início da manhã. As manifestações nas redes sociais mesclaram os conhecidos memes e lamentações de quem usa a plataforma no expediente laboral. Uma problemática, no entanto, chama a atenção: os brasileiros estão muito dependentes da inteligência artificial (IA)? Ainda conseguem executar o trabalho com a mesma qualidade de outrora sem esse auxílio tecnológico? E mais: têm consciência dos efeitos devastadores que esses recursos podem produzir?

A discussão sobre a IA merece cada vez mais espaço na sociedade. Em primeiro lugar, é preciso entender que ela existe para otimizar os trabalhos, não substituir o raciocínio que somente os humanos possuem. O bom dessa tecnologia a diretamente pela elaboração de prompts (as requisições que fazemos na caixa de busca de cada IA) eficientes. A receita ideal exige um detalhamento do problema que a maioria dos usuários dispensa, optando por perguntas rápidas e superficiais. O resultado trazido é superficial na mesma proporção e leva o usuário a cometer erros que, sem a expertise necessária, podem custar retrabalho, dinheiro, demissão, entre outros prejuízos.

Por isso, a urgência do chamado "letramento digital", expressão cada vez mais presente nas empresas, mas ainda distante do cidadão comum e de outras instituições, como as escolas. É preciso entender que os modelos de inteligência artificial são matemáticos e trabalham com probabilidades para alcançar respostas para problemas com base no imenso mundo dos dados. O potencial é transformador, com um leque de benefícios ampliado. Os impactos do mau uso, também.

Ontem, por exemplo, o Google anunciou que vai oferecer previsões do tempo de maneira muito mais assertiva por meio de um modelo de IA. A tecnologia será capaz de antecipar chuvas de alta intensidade 12 horas antes, a partir de uma atualização a cada 15 minutos. Se bem usada pelo poder público, poderá ajudar a evitar tragédias que assolam recorrentemente cidades brasileiras e abastecer comunidades de regiões remotas com dados meteorológicos estratégicos. 

Por outro lado, a mesma ferramenta tem sido usada em novas manifestações de violência de gênero — com a criação de vídeos falsos que, por exemplo, mostram mulheres e meninas em situações humilhantes — e há uma preocupação real em torno dos desdobramentos do seu uso nas disputas eleitorais. Não à toa, o presidente Lula afirmou, na última sexta-feira, que, sem regulação para o uso de IA, a campanha eleitoral será "100% de mentira".

Para além da boa vontade do usuário em procurar informações confiáveis e usar a IA corretamente, parte das políticas de letramento digital depende do próprio poder público. É importante que estados, municípios e a União pensem em parcerias com entidades e especialistas para educar a população. A velocidade com que essas ferramentas têm se aperfeiçoado e entrado na rotina das pessoas está muito além do ritmo das respostas de gestores pelo bom uso desses recursos tecnológicos.

 


Por Opinião
postado em 11/06/2025 06:00
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