Sete em cada dez brasileiros que cursavam o ensino superior no ano ado estudaram todo o ensino médio em escolas públicas. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de Educação 2024, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa considera pessoas que frequentaram a graduação, mesmo que não tenham concluído o curso.
A presença de estudantes oriundos da rede pública também é expressiva nos cursos de pós-graduação: quase seis em cada dez pessoas que cursaram especialização, mestrado ou doutorado fizeram o ensino médio em escolas públicas.
Para o pesquisador do IBGE responsável pela pesquisa, William Araújo Kratochwill, os números refletem políticas públicas de inclusão educacional, como o sistema de cotas, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). "Acredito que haja relação direta com programas que buscam ampliar o o de alunos da rede pública ao ensino superior. Essas iniciativas geralmente são voltadas à população de baixa renda, que, em sua maioria, estudou em escolas públicas", avaliou.
Embora evidencie os importantes avanços, a pesquisa mostra que desigualdades persistem. O percentual de pessoas com 25 anos ou mais com ensino superior completo subiu de 19,7% em 2023 para 20,5% em 2024, o maior da série iniciada em 2016. Também cresceu a presença de estudantes pretos e pardos nos cursos de graduação, embora brancos ainda sejam maioria.
A taxa de frequência líquida, que mede quantos jovens entre 18 e 24 anos estão na faculdade na idade certa, mostra um abismo racial: 37,4% entre brancos, contra 20,6% entre pretos e pardos. A média nacional é de 27,1%, distante da meta de 33% estipulada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para este ano.
O retrato da desigualdade se estende à média de anos de estudo: pessoas brancas têm, em média, 11 anos de escolaridade, contra 9,4 anos de pretos e pardos. Mulheres seguem com maior escolaridade média (10,3 anos) do que os homens (9,9 anos).
Raízes da exclusão 6q3e1x
A exclusão começa cedo. Dados da Pnad mostram que o país ainda não universalizou o o à educação infantil, etapa decisiva para a formação das bases cognitivas, emocionais e sociais das crianças. A taxa de atendimento na pré-escola, para crianças de 4 a 5 anos, ficou em 93,4% abaixo da meta de universalização assumida pelo Brasil desde 2016. Na faixa de 0 a 3 anos, o deficit de vagas em creches é ainda maior, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
- Leia também: O maior desafio nacional: combater as desigualdades
"Inúmeros estudos comprovam que é nessa fase da educação infantil, do zero aos cinco anos, que se forma toda a base do desenvolvimento humano. Noventa por cento do cérebro se desenvolve nessa etapa", explica Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. "É por isso que os impactos tanto positivos, quanto negativos são determinantes para toda a trajetória escolar e de vida. Quando há qualidade, a criança tem até três vezes mais chance de aprender ao longo dos anos, de permanecer na escola e concluir os estudos", afirma.
Mariana destaca que a Lei 14.851/2024, que estabelece prioridade na matrícula em creches públicas para crianças de famílias beneficiárias do Bolsa Família, é um avanço, mas não suficiente. "A visão de priorizar quem mais precisa é fundamental, mas é preciso ir além. A criança precisa de um atendimento integrado: educação, saúde, nutrição, proteção. A escola deve ser um espaço seguro, com infraestrutura adequada, materiais pedagógicos e profissionais preparados. A educação infantil de qualidade começa por aí", defende.
DF lidera 39591i
No Distrito Federal, os dados também mostram contrastes. A taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais é de 1,8%, a menor do país. No Brasil, a média é de 5,3%, o que representa 9,1 milhões de pessoas. Alagoas, Piauí e Paraíba registram as maiores taxas, com mais de 12% de analfabetos.
A escolarização de crianças de 0 a 5 anos no DF alcançou 58,2%, com crescimento de 3,1 pontos percentuais em relação a 2023. Já a taxa de escolarização de crianças de 4 a 5 anos caiu, de 94,1% para 92,6%. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 46,5% estão frequentando escola ou universidade.
Jovens desconectados 5192k
A pesquisa do IBGE também escancara a realidade de 8,7 milhões de jovens entre 14 e 29 anos que não completaram o ensino médio. Entre os que abandonaram ou nunca frequentaram a escola, os principais motivos são a necessidade de trabalhar (42%), a falta de interesse (25,1%) e, no caso das mulheres, a gravidez (23,4%). Quase uma em cada dez meninas indicou que deixou os estudos para cuidar da casa ou de familiares.
"Esses resultados evidenciam que, além da condição econômica, as responsabilidades reprodutivas e domésticas ainda são entraves significativos para a permanência das mulheres jovens na escola", avalia o IBGE.
Para Mariana Luz, o Brasil precisa agir com urgência. "A educação infantil é onde se estabelecem as bases da alfabetização, do convívio, da aprendizagem e da cidadania. Se ignorarmos essa fase, será tarde demais. A equidade começa desde o início".
*Estagiária sob a supervisão de Edla Lula
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