
Diante do cenário de conflito no Oriente Médio, os preços do petróleo no mercado internacional dispararam desde a madrugada de ontem. Após a ofensiva de Israel contra instalações estratégicas no Irã e a retaliação do país de maioria xiita ao território israelense, o valor do barril tipo Brent avançou 7,02% na cotação para agosto, sendo vendido a US$ 74,51, enquanto o West Texas Intermediate (WTI) também fechou em alta, desta vez, de 7,29%, com o barril comercializado a US$ 72,98.
Os dois índices são amplamente utilizados no mercado internacional por empresas do setor de petróleo, como a Petrobras. O avanço do preço da commodity no mercado internacional, no entanto, poderia ter sido ainda maior, visto que, de acordo com informação reada pela Companhia Nacional Iraniana de Refino e Distribuição de Petróleo, não houve danos às instalações de refino e armazenamento no país, que seguiram em operação, normalmente, no dia de ontem.
No entanto, uma possível escalada do conflito entre Irã e Israel pode trazer sérios riscos ao mercado internacional, pelo fato de o país atingido pelos israelenses ser um dos principais produtores de petróleo no mundo. Cerca de um quinto do consumo global da commodity a pelo Estreito de Ormuz, que separa o Irã da Península Arábica, onde se encontram outros grandes detentores de petróleo no mundo, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Catar.
De acordo com a JP Morgan, em uma eventual escalada das tensões, o pior cenário para o setor pode fazer com que o preço do petróleo alcance valores entre US$ 120 e US$ 130, o barril — quase o dobro do que é praticado atualmente. A última vez em que o preço do Brent atingiu essa faixa de valor foi durante a invasão das tropas russas ao território ucraniano, ainda nos primeiros meses de 2022. Desde o mês de junho daquele ano, o petróleo se manteve abaixo do patamar de US$ 100.
No meio da semana, o barril do petróleo também chegou a apresentar valorizações mais fortes. No último dia 11, o barril Brent avançou 4,34%, enquanto o WTI valorizou 4,88%. O movimento ocorreu após fontes afirmarem a algumas agências de notícias que os EUA estariam se movimentando para desocupar sua embaixada no Iraque, em meio a preocupações com a situação geopolítica no Oriente Médio, antes mesmo do ataque de Israel, que ocorreu na madrugada de quinta para ontem. No acumulado da semana, WTI e Brent dispararam 13% e 12%, respectivamente.
Para o economista e autor em Geopolítica Masimo Della Justina, os próximos os da crise no setor do petróleo dependem mais da atuação de Israel no conflito e se o bombardeio no território iraniano deve ser apenas uma "intervenção cirúrgica" no país xiita. "Em termos de economia, obviamente, o preço do petróleo sobe e isso tem implicações no fluxo do comércio internacional. Sempre que o preço dos combustíveis sobe, o preço dos transportes sobe e a inflação sobe", considerou o economista.
Na avaliação do analista de Comércio Internacional pela BMJ Consultores Associados Vito Villar, mesmo se houver novos ataques entre os países, a tendência é que não haja um distanciamento tão forte do patamar atual. "Se as tensões continuarem no modo em que estão, dificilmente o preço do petróleo vai ar dessa barreira dos US$ 80, porque vai ter outros atores econômicos colocando mais desse produto no mercado para conter a elevação dos preços, então essa é a situação de momento que eu enxergo", acredita.
Em meio ao cenário de tensão geopolítica, o mercado internacional digeriu mal os ataques promovidos pelo exército israelense, o que fez com que as bolsas em diversos países recuassem, enquanto o mundo acompanhava tenso as ofensivas no Oriente Médio. Na Ásia, onde os mercados fecham primeiro, os principais índices terminaram todos no vermelho, com destaque para a bolsa de Xangai, na China, que recuou 0,75%, e a de Tóquio, no Japão, que recuou 0,89%. Na Europa, a direção foi a mesma: Euro Stoxx 600 (-0,88%); DAX (Alemanha) (1,49%); FTSE 100 (Reino Unido) (-0,45%); CAC 40 (França) (-1,17%); e FTSE MIB (Itália) (-1,43%).
Também houve queda nos três maiores índices dos Estados Unidos. O Dow Jones recuou 1,79% nesta sexta-feira, enquanto Nasdaq e S&P 500 tiveram quedas de 1,13% e 1,3%, respectivamente. Sobre a situação dos mercados globais diante da crise, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse, em entrevista ao Wall Street Journal, que os ataques de Israel "no fim das contas, serão ótimos para o mercado, porque o Irã não terá uma arma nuclear". Os novos episódios do conflito responderão a essa incógnita.